Terceira geração do Sportage muda por completo para deixar a antecessora, literalmente, no passodo
Recursos off-road impendem que o Sportage se intimide no mato, mas suspensão tem curso pequeno
Jogo da memória: feche os olhos e tente se lembrar da geração atual do
Sportage. Agora, compare as imagens na sua cabeça às daqui e responda: o que há de igual entre elas? Nada? Ah, encontrou semelhanças? Tsc, tsc, tsc. Lamento dizer que é só a sua imaginação. Além do nome, a nova geração do utilitário não traz heranças do antecessor. Parece ousadia da
Kia mudar radicalmente o veículo que teve 860 mil unidades vendidas no mundo todo desde 2004 e foi seu “best-seller” no Brasil no ano passado? Pode até ser. Contudo, a arrancada da marca coreana, que partiu da quase extinção em 1998 para mais de uma década de crescimento ininterrupto, mostra que a estratégia está funcionando – e a tendência é que continue assim.
Não acredita? Pois saiba que o
Sportage evoluiu não só no visual, mas também no conforto, na dirigibilidade e até no desempenho, embora de modo mais tímido. Comecemos pelo que está bem à vista. A nova identidade visual da Kia está presente na dianteira. A grade no estilo “nariz de tigre” confere aspecto invocado ao se alargar pelas laterais até incorporar os faróis – na versão brasileira, infelizmente, não haverá o belo feixe de leds, opcional nos EUA. Os detalhes cromados que contornam a grelha sobem em direção ao capô, onde encontram vincos altos, bem definidos. Eles terminam junto à coluna A, que segue a forte inclinação do para-brisa para se encaixar no teto baixo – o
Sportage tem 1,63 m de altura, 6 cm a menos que na geração anterior. Essa medida, em conjunto com a redução de 91 kg no peso (para 1.479 kg), melhorou a dinâmica do carro. Bom para quem dirige. Nem tanto para os passageiros altos, que ficam próximos de raspar a cabeça quando sentados no banco traseiro.
Visual da traseira é limpo e traz a luz de seta em posição horizontal, na altura onde a tampa do porta-malas termina
Antes de entrar no
Sportage é preciso ressaltar que, além de mais baixo, ele está mais próximo do chão: são 17,2 cm de altura livre do solo, ante os antigos 19,5 cm. Em compensação, ele cresceu 9 cm em comprimento (4,44 m), 15 cm em largura (1,85 m) e 10 cm de entre-eixos (2,64 m). Na lateral, os vidros estreitos acompanham a linha de cintura elevada, deixando o utilitário com ar esportivo. Mas isso gera um inconveniente para quem tem estatura de mediana a baixa: acomodado no banco da frente, o ocupante se sentirá de volta à infância, já que o assento não tem regulagem de altura. O visual da traseira é clean, com lanternas horizontais. “A intenção era chegar a um desenho moderno e limpo, feito para durar mais tempo e ter apelo junto a um público mais jovem”, diz Enrique Giner, gerente de design do centro de estilo da
Kia na Califórnia.
O objetivo foi atingido, e o design ainda acumula a função de diferenciar o
Sportage de seu irmão de grupo, o
Hyundai ix35. Apesar de compartilharem a plataforma e a maioria dos componentes, ambos têm acertos distintos. A começar pelo posicionamento na tabela de preços. Enquanto o
ix35 custa a partir de R$ 88 mil, o
Sportage chegará às revendas após o Salão do Automóvel, em outubro, com preço inicial estimado em R$ 75 mil.
A versão de entrada terá câmbio manual de cinco marchas ou automático de seis. De série, contará com ar-condicionado, airbag duplo, rack no teto, sensor de estacionamento, acendimento automático de faróis, alarme, controle remoto para abertura das portas e entradas iPod/USB. A intermediária virá com as mesmas opções de câmbio, mas o automático poderá receber tração 4x4. Além dos itens acima, terá retrovisor com pisca integrado, rodas de liga leve aro 18, chave inteligente, bancos com revestimento de couro, ajuste elétrico do assento do motorista e controle de estabilidade. Por fim, a topo de linha automática (como a testada) soma aos equipamentos de fábrica airbags laterais e de cortina, teto solar elétrico e retrovisor interno com câmera de ré. Vai custar cerca de R$ 100 mil.
Agora, “simbora” para o interior. Calma, ainda não vamos falar da cabine. Vamos é para a pista de testes em Tatuí (SP). No caminho exploramos as respostas do motor 2.0 16V com comando de válvulas variável, 166 cv e 20,1 kgfm – um aumento de 24 cv e 1,3 kgfm, respectivamente, em relação ao Sportage que está nas ruas. A potência teve ganho significativo, ao contrário do torque. O desempenho geral melhorou, graças, também, ao novo (e suave) câmbio automático de seis velocidades. Só que basta uma subida para o
Sportage se cansar e reduzir marchas rapidinho. O motor não grita como antes. Mas, nas retomadas, ele perde a serenidade que tem a 120 km/h com o conta-giros em apenas 2.500 rpm.
Console central é estiloso e interior segue a fórmula do visual externo, com linhas limpas. Iluminação em vermelho agrada
A versão 2.4 16V, que
Autoesporte teve oportunidade de avaliar em São Francisco (EUA), é a ideal. Com 177 cv, seu torque nem é tão superior (23,1 kgfm), mas aparece um pouco mais cedo, a 4.000 rpm em vez de 4.600 rpm. Contudo, ela não virá ao Brasil. A novidade aqui será o 2.0 16V flex, no segundo semestre de 2011. Apesar desse pênalti no torque, o utilitário anda bem – foi um pouco melhor que o ix35 nas provas dinâmicas. Caso o motorista se empolgue e entre com vigor nas curvas, será surpreendido pela intrusiva ação do controle de estabilidade, que traz o carro para dentro da curva. O comportamento arisco é oposto ao da suspensão. Independente nos dois eixos, com estrutura McPherson na frente e multibraços atrás, ela privilegia o conforto e absorve bem as imperfeições da pista – embora seja firme o suficiente para transmitir confiança em trechos sinuosos. Como tem curso pequeno, ela bate com relativa facilidade quando se troca o asfalto pela estrada de terra. Mas não afeta o bem-estar ao volante.
Para esticar o passeio no off-road leve, não há dificuldades, já que os ângulos de entrada (28,1°) e saída (28,2°) são satisfatórios. Além disso, na versão 4WD testada há controles de descida e tração. Numa ladeira de terra, o primeiro manteve o veículo abaixo de 10 km/h. Sem ele, a velocidade atingiu 40 km/h na mesma condição. Em situações de pouca aderência, você pode bloquear o diferencial central (por um botão no painel), deixando a divisão de torque em 50% para cada eixo.
Porta-malas cede espaço sob o assoalho para o estepe, banco traseiro é bipartido
Agora, sim, chegamos ao interior do
Sportage. Os acabamentos são benfeitos e contam com materiais agradáveis ao toque. O espaço é amplo, até em função da esticada que a carroceria recebeu. No banco de trás, o túnel central não chega a ser plano, mas afeta pouco o espaço para pernas, garantindo boa acomodação aos passageiros. O motorista também viaja com conforto, e encontra boa posição para dirigir, apesar da falta de ajuste de profundidade do volante – que, aliás, tem ótima pegada, com encaixe perfeito para os polegares. O que o condutor pode estranhar um pouco é o freio de estacionamento no pé (nas configurações automáticas) e o vidro traseiro pequeno. Depois de conhecer melhor o novo
Sportage, fica ainda mais difícil o exercício de se lembrar do anterior, não é? Relaxe. No jogo da memória, o modelo atual é que promete ficar marcado na sua lembrança.
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